Colóquio Internacional “Comunicação Intercultural: Passado e Presente” | 13 de Janeiro de 2017

COLÓQUIO INTERNACIONAL
“Comunicação Intercultural: Passado e Presente”

Coord. CEI e Maria de Deus Manso (Univ. Évora)

13 de Janeiro de 2017 | 11.00 – 17.00 | ISCAP

Programa | Galeria


Programa

Sessão de Abertura
11.00 – Viagens quinhentistas: interculturalidade, representações e sobrevivências – Maria de Deus Manso (CICP – Universidade de Évora)
11.30 – Uma História de Estórias: Contributo para a História da Interpretação de Conferência em Portugal – Sara Cerqueira-Pascoal e Marco Furtado (CEI – ISCAP/IPP)
12.00 – De Fenollosa a Pound, de Pound a Confúcio: a Teoria dos Detalhes Luminosos, um novo método tradutivo – Manuela Veloso (CEI – ISCAP/IPP)
12.30 – Debate
14.30 – Da destruição à patrimonialização: passado e presente das Uma Lulik / Casas sagradas de Timor Leste – Lúcio Sousa (Universidade Aberta e IELT – FCSH/UNL)
15.00 – Educação Escolástica no Espírito Santo: a presença de Franciscanos e Jesuítas à época das Capitanias Hereditárias (séc. XVI) – Francis Rasseli dos Santos (Universidade de Évora)
15.30 – Cultura política, administração fazendária e conflitos de jurisdição: A Provedoria da Fazenda e a Junta de Administração e Arrecadação da Real Fazenda da Bahia (1761-1770) – Poliana Cordeiro de Farias (Universidade Federal da Bahia)
16.00 – Vindos dos sertões da África: a presença de escravos africanos nos sertões de Pernambuco da América portuguesa (1750-1808) – Alexandre Bittencourt Leite Marques (Universidade de Évora)
16.30 – Negros y afrodescendientes en un mundo intercultural. Hispanoamerica y la integración de realidades mestizas” (via skype) – Sandra Olivero Guidobono (Universidad de Sevilla, Seminario Permanente Familias y Redes Sociales: movilidad, etnicidad y mestizaje en el mundo atlántico)
Las minorías religiosas en la comunicaciónintercultural intemporal (via skype) – Juan Jesús Bravo Caro (Universidad de Málaga)
17.00 – Debate
Sessão de Encerramento


“Viagens quinhentistas: interculturalidade, representações e sobrevivências”
Maria de Deus Manso (CICP – Universidade de Évora)

O século XVI europeu reporta-nos para um período de violência e de intolerância religiosa e a questão da Salvação dos Homens tornou-se um tema central. As escolhas individuais por um determinado tipo de vida podem ser o caminho que auxilie nessa procura. As obras e a fé que o individuo teve em vida irão pesar no julgamento dos mortos. Embora o Homem seja culpado por natureza por causa do pecado original, pode ser julgado pelo conduta que adotou em vida. Assim, o livre arbítrio permite ao homem escolher um percurso sem pecados ou apenas com “pecados leves” que o afastem do castigo eterno e não o condenem às “penas eternas do Inferno”, mas lhe deem acesso ao purgatório, lugar transitório, cujo conceito se consolida no século XII . A crença nesta conquista terá pesado em muitos itinerários/vidas pessoais. O medo da morte nas sociedades europeias dotara a viagem oceânica da época moderna de diversos significados. Esta para muitos tornou-se uma espécie de especiação. Tendo por base os relatos enviados para a Europa de diferentes partes do mundo, particularmente narrados por religiosos, tentaremos abordar a representação e significado que estes construíram da movimentação marítima.


“Uma História de Estórias: Contributo para a História da Interpretação de Conferência em Portugal”
Sara Cerqueira-Pascoal e Marco Furtado (CEI – ISCAP/IPP)

O intérprete de conferência desempenha um papel de relevo inegável na comunicação intercultural. A história da Interpretação enquanto profissão tem sido alvo de vários estudos e de múltiplos contributos, considerada genericamente quer enquanto parte da História da Tradução (Kelly, 1979; Von Hoof, 1991; Delisle, 1995), quer enquanto atividade isolada (Gaiba, 1998; Baigorri-Jalón 2000 & 2009). No entanto, em Portugal, para além da história partilhada da profissão, muito pouco se sabe sobre a génese da profissão e as características dos primeiros profissionais. Este artigo pretende em primeiro lugar revisitar a história da interpretação de conferência, contribuindo para desvendar um pouco da História da profissão no nosso país, utilizando para o efeito uma pesquisa baseada em testemunhos dos primeiros praticantes profissionais da interpretação de conferência em Portugal. Num segundo momento, refletiremos sobre o ensino da interpretação de conferência no ISCAP, revelando o papel que a história da profissão tem no currículo e na construção de uma ética e estatuto profissionais.


“De Fenollosa a Pound, de Pound a Confúcio: a Teoria dos Detalhes Luminosos, um novo método tradutivo”
Manuela Veloso (CEI/ISCAP)

A teoria de Ernest Fenollosa sobre o ideograma baseia-se na noção de que este é tanto visual como relacional, tendo como terreno a Natureza. Ernest Francisco Fenollosa (1853-1908) nasceu em Salema e foi educado em Harvard. Quando foi para o Japão, em 1878, como professor de filosofia – ensinou, nomeadamente, Hegel e Herbert Spencer – levou com ele tesouros de transcendentalismo. Quando voltou definitivamente do Japão, em 1901, trouxe de volta o mesmo transcendentalismo, mas agora visto com novos olhos, mudados pelo o estudo dos caracteres chineses. Doze anos mais tarde, Pound adquire o manuscrito de Fenollosa, pelas mãos de Mary Fenollosa – “The Chinese Written Character as a Medium for Poetry”. O que desperta a atenção de Pound em Fenollosa é a noção de que nas línguas ocidentais, os poetas também poderiam escrever à imagem do ideograma, adquirindo um pendor mais explorador face ao mundo, obtendo o mesmo tipo de efeito reorientador no leitor. O carácter anónimo da natureza – simplex naturae – foi sempre um grande ponto de interesse para E. Pound, que se inspira na nomenclatura de Confúcio para cunhar a sua Teoria dos Detalhes Luminosos. Confúcio fala da força diagnóstica dos detalhes em Os Analectos, que se debruça sobre a educação e comportamento do homem ideal, sobre como um indivíduo deve viver a sua vida e interagir com os outros, sobre formas de governo e sociedade, sobre questões metafísicas, como seja a postura face aos mortos, sendo que a melhor forma de lhes prestar homenagem é prestar atenção aos mais pequenos detalhes da nossa vida quotidiana. O título do artigo seminal de Pound, sobre os Detalhes Luminosos na literatura, I Gather the Limbs of Osiris sugere, justamente, a intenção de refazer toda uma perspectiva metafísica e metaliterária a partir de uma incisão exegética que re-energize o texto na produção.


“Da destruição à patrimonialização: passado e presente das Uma Lulik / Casas sagradas de Timor Leste”
Lúcio Sousa (Universidade Aberta e IELT – FCSH/UNL)

A política da cultura e do património nos recentes governos de Timor Leste dedica uma atenção particular às uma lulik, as casas sagradas, elegendo-as como um paradigma simbólico da nação e objeto prioritário de patrimonialização. O pressuposto desta comunicação assenta na ideia de que este processo decorre no contexto de uma tensão entre a apropriação e valorização do seu valor enquanto património material, em detrimento da sua dimensão imaterial, ou pelo menos, parte essencial desta: a persistência de uma prática religiosa assente no culto dos antepassados e a continuidade de uma estrutura socio ritual que a assegura. Esta comunicação pretende descortinar, desde o passado colonial até ao presente independente, as perceções e tensões do reconhecimento e gestão da noção de casa sagrada pelos diferentes interlocutores em presença: autoridades políticas, religiosas e académicas.


“Educação Escolástica no Espírito Santo: a presença de Franciscanos e Jesuítas à época das Capitanias Hereditárias (séc. XVI)”
Francis Rasseli dos Santos (Universidade de Évora)

Em termos educacionais, muito se fala, quase que exclusivamente, da atividade missionária e educacional da Companhia de Jesus, a partir de sua chegada à Bahia, em 1549, e minimamente se faz menção às outras ordens existentes no Brasil. Muitos autores que tematizaram a História da Educação Brasileira, ao considerarem tão expressiva a ação educativa dos jesuítas, entre 1549 e 1759, caracterizam esse lapso de mais de dois séculos pelo seu presumível exclusivismo, apesar do protagonismo, em geral, ignorado ou silenciado, de franciscanos, de beneditinos, de carmelitas, de mercenárias, de oratorianos e de outros religiosos na cena educacional brasileira. Diante dessa constatação, temos por objetivo, neste pequeno ensaio, analisar brevemente a ação da Ordem Franciscana em contraponto à Ordem dos Jesuítas – de modo a caracterizar as obras produzidas por ambas as instituições eclesiásticas -, apontar a influência que exerceram no meio educacional e religioso, e, finalmente, destacar a herança escolástica que a Capitania do Espírito Santo recebeu no começo do Cinquecento.

Nota biográfica

Licenciado em História pela Universidade Federal do Espírito Santo (2015), doutorando no Programa de Doutoramento em História do Instituto de Investigação e Formação Avançada da Universidade de Évora, Portugal. Tem experiência na área de História da Baixa Idade Média e Moderna, com ênfase em Teoria e Filosofia da História, onde atua principalmente nos seguintes temas: paleografia; filosofia; representação; mentalidades; imaginário da baixa idade média; sagrado e profano. E-mail: francisrasseli@gmail.com


“Cultura política, administração fazendária e conflitos de jurisdição: A Provedoria da Fazenda e a Junta de Administração e Arrecadação da Real Fazenda da Bahia (1761-1770)”
Poliana Cordeiro de Farias (Universidade Federal da Bahia)

A Junta de Administração e Arrecadação da Real Fazenda foi estabelecida na Bahia, em 1761, no contexto das reformas pombalinas de centralização administrativa e fiscal. Subordinada ao Erário Régio tinha por principais atribuições a gestão dos rendimentos régios; organização e pagamento das folhas dos ordenados eclesiástico, civil e militar e de todas as despesas públicas com vistas a reduzir os gastos do Estado; supervisão das contas de outros órgãos, como a Casa da Moeda, Alfândega, Provedoria da Fazenda e Intendência da Marinha e Armazéns Reais; envio semestral, ao Erário Régio, de livros de balanço contendo as receitas e despesas da capitania, pelo novo método contábil de partidas dobradas. Alterando a estrutura administrativa anterior, sua instalação não se fez sem conflitos. Até o ano de 1767 o Conde de Oeiras, presidente do Erário Régio, enviava correspondências às autoridades baianas advertindo-as por não terem conseguido implantar o novo método contábil, capaz de fornecer “maior conhecimento dos negócios da fazenda da Bahia”. Travou-se uma disputa entre os oficiais da nova instituição e o provedor e oficiais subalternos da Fazenda que se recusavam a cumprir às determinações de Sua Majestade, a entrega dos livros de receita e despesa para exame e organização com base na partita doppia pela nova magistratura. Demonstravam, conforme relatou o Conde de Povolide, “hum grande amor a perniciosa confusão antiga” e “hum ódio estranhável a tudo que diz respeito a creação moderna e seus executores”. Tal tensão, personificada pelo Contador Geral do Estado da Bahia e Escrivão da Fazenda Antônio Ferreira Cardoso e pelo Provedor José Ferreira Cardoso da Costa, extrapolou o plano interno da instituição. O primeiro escreveu documentos ao Erário Régio e ao Conselho Ultramarino defendendo a sua jurisdição, claramente usurpada pelo provedor. Ao se pronunciar, elucidou aspectos importantes que norteavam o exercício dos agentes da administração fazendária na Bahia, bem como da afirmação do novo órgão administrativo, seus objetivos e funções principais. Esta comunicação visa analisar a constituição e funcionamento da Junta da Real Fazenda, como um instrumento da política mercantilista do governo português. Destacaremos os conflitos entre a nova instituição e Provedoria da Real Fazenda, devido às sobreposições de funções. A Provedoria sofreu alterações em suas funções até 1770, quando foi extinta e os provedores incorporados como deputados da Junta da Real Fazenda.


“Vindos dos sertões da África: a presença de escravos africanos nos sertões de Pernambuco da América portuguesa (1750-1808)”
Alexandre Bittencourt Leite Marques (Universidade de Évora)

Nos sertões de Pernambuco, entre os séculos XVIII e XIX, as atividades de pecuária e agricultura eram exercidas, muitas vezes, através da mão de obra escrava. Alguns desses escravos foram capturados nos longínquos sertões da África e conduzidos para os distantes sertões de Pernambuco. Em sua diáspora atravessaram milhares de quilômetros de terras, oceano e terras novamente. O presente trabalho pretende analisar a presença de escravos africanos nos sertões de Pernambuco, na América portuguesa, entre os anos de 1750 e 1808. Utilizaremos como fontes de pesquisa, principalmente, dois tipos de documentação: os inventários post-mortem e os relatos de viajantes que percorreram aquela região.

Nota biográfica

Doutorando em História pela Universidade de Évora/ Portugal, com bolsa de estudo Capes/Brasil. Licenciado em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Cultura Regional da UFRPE. Professor da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco (Seduc-PE). Pesquisador do “Sistema de Consulta Prosopográfica: perfil social, trajetória e documentação de Pernambuco Colonial (1640-1822)” – CNPq/UPE. Email: alexandre.bittencourt@hotmail.com


“Negros y afrodescendientes en un mundo intercultural. Hispanoamerica y la integración de realidades mestizas” (via skype)
Sandra Olivero Guidobono (Universidad de Sevilla, Seminario Permanente Familias y Redes Sociales: movilidad, etnicidad y mestizaje en el mundo atlántico)

El presente trabajo pretende recuperar la presencia de la población negra y afrodescendiente en las colonias españolas en América, rescatando sus huellas culturales, sociales y económicas a través de la integración, la supervivencia de identidades difusas y el mestizaje. La conformación de una identidad americana colonial debe recuperar la presencia de un pasado negro, ligado a la esclavitud como forma de explotación económica y organización social. Sin lugar a dudas la familia constituye un laboratorio de análisis idóneo para comprender los mecanismos de adaptación, integración y mestizaje como procesos de movilidad social y étnica en un mundo mucho más dinámico, permeable y difuso que lo que se cree. 


“Las minorías religiosas en la comunicaciónintercultural intemporal” (via skype)
Juan Jesús Bravo Caro (Universidad de Málaga)

El trabajo aborda, preferentemente, las similitudes que pueden establecerse entre la comunicación intercultural apreciada en diferentes comunidades religiosas, mostrando las estrategias desarrolladas por colectivos concretos cuyo peso demográfico es inferior frente a la mayoría de la población. Los ámbitos espaciales corresponderán a Europa y el Mediterráneo, con unas coordenadas temporales centradas en la Edad Moderna y en la actualidad. Cristianos, judíos o musulmanes tuvieron, y tienen todavía hoy en día, la necesidad de adaptarse cuando no integrarse o disimular prácticas culturales y confesionales no siempre bien aceptadas por el conjunto de la sociedad de los países donde residen.

Nota biográfica

Juan Jesús Bravo Caro es Profesor Titular de Universidad, Acreditado a Catedrático de Universidad, y Director del Departamento de Historia Moderna y Contemporánea de la Universidad de Málaga. Las líneas de investigación se centran en la sociedad de la Edad Moderna, con especial atención a las élites y los grupos sociales, tanto en el ámbito peninsular español como en el del Mediterráneo, además de las consecuencias económicas de la política de las monarquías frente a las minorías. Fruto de todo ello han sido publicadas varias monografías, artículos en revistas científicas y participaciones en calidad de ponente en Congresos y Seminarios internacionales (Paris, Cagliari, Matera, Potenza, Estambul, Évora, Lisboa, Túnez o México).