A street art na renovação da paisagem urbana durante a pandemia

Por Luísa Silva

O espaço público é compartilhado por todos os tipos de mensagens, sejam elas publicitárias, de propaganda ou imprevistas e voluntárias, como é o caso do graffiti e da street art, que se tornaram uma característica comum no espaço visual urbano.

Apesar de proibida por lei a prática de “grafitos, afixações, picotagem e outras formas de alteração, ainda que temporária, das caraterísticas originais de superfícies exteriores de edifícios, pavimentos, passeios, muros e outras infraestruturas” – Lei n.º 61 de 23 de Agosto de 2013 – a legislação dá às Câmaras Municipais, competência tanto para aplicar as coimas como para autorizar intervenções de arte urbana ou, como vulgarmente chamamos, street art.

Nesse sentido, é inegável que temos assistido à “legitimação” da street art, certamente influenciada pelo dinamismo da globalização, da qual emergem manifestações de mudança em relação à cultura e na adoção de critérios mais amplos na sua caracterização e abrangência. 

Atualmente, a nível mundial, a street art é uma prática inserida em contextos institucionais públicos e privados, como solução para alguns problemas recorrentes do nosso tempo. É usada como estratégia de regeneração urbana e prevenção ao vandalismo, ao servir-se da sua criatividade para o embelezamento das áreas deprimidas e inseguras das cidades, igualmente na valorização do património local, pelo seu contributo na contínua (re)construção da identidade cultural, assim como fator de inclusão e de revitalização social, numa sociedade com públicos cada vez mais diversificados.

Hoje em dia, ao contrário do que aconteceu até ao século XX, a cultura desempenha um papel de liderança no desenvolvimento económico. A ligação entre cultura e economia manifestou-se claramente no turismo, o setor mais representativo em termos económicos. Impulsionado pela Comunidade Europeia e adotado pelos estados-membros, o turismo cultural tornou-se um mercado em ascensão de consumidores que procuram novas experiências na área das atividades culturais e criativas. A simbiose, produtos criativos e destinos turísticos, estende-se também à prática artística no espaço público, como um produto de turismo cultural, cuja participação e impacto visual aumenta claramente a atratividade e a imagem das cidades, oferece novas formas de vivenciá-las que se reflete no seu progresso social e económico.

Porém, no ínicio de 2020, fomos abalroados por uma pandemia. Uma situação inimaginável, marcada por insegurança, confinamentos e desertificação do espaço coletivo. Neste período, nos muros da cidade surgem mensagens pictóricas de caráter político, social e económico, reflexo da acentuada precariedade socioeconómica.

Estas representações artísticas, espontâneas e marginais, habitualmente transgressoras e de provocação ao status quo, são, desde a sua existência, participantes dos movimentos sociais e do processo de construção das democracias.

Temas exacerbados pela pandemia como as restrições à liberdade, o declínio democrático a nível global, o consumismo, o uso excessivo das redes sociais ou a nossa fragilidade num mundo refém do vírus/vacina, foram algumas das composições concretizadas em argumentos para a visualidade e envolvimento público. Também coletivo é o compartilhamento de sentimentos, manifestado nos murais de agradecimento aos profissionais de saúde, tal como o desejo de voltar à “normalidade” demonstrado nas amplas, policromáticas e emotivas criações artísticas que vão surgindo na cidade.

Se a atividade estético/visual tem sido constante nos últimos tempos, mesmo no período de pandemia, sem dúvida que há a expectativa de que continue pelos “museus a céu aberto” das cidades do Grande Porto. Quer sejam integradas num enquadramento institucional autorizado, ou espontâneas e marginais, a renovação da paisagem urbana, pelos vários artistas que mostram nas suas manifestações artísticas os diferentes estilos e técnicas, transforma-se num processo de comunicação multigeracional que diferencia cada cidade das demais.

Mas, melhor do que falar de street art, é mostrar algumas peças que fazem parte do nosso quotidiano.

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